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segunda-feira, 7 de abril de 2014

A casa da mãe Joana


Diz a tradição popular que a casa da mãe Joana é uma bagunça. Todo mundo grita e ninguém tem razão, especialmente quando falta pão. Quando tem feijoada, todo mundo mete a colher e se for com samba cada um atravessa a música de acordo  com o gosto freguês. Mãe Joana não se importa, sabe que tudo isso é uma característica cultural  do  seu povo, que não assume nada, não sabe de nada, não se importa com nada. Se fosse italiana diria  ... e la nave và. Joana da Silva nunca fez carreira em nenhuma empresa, não tem o perfil que os métodos de gestão exigem. Não tem hora, não tem time, não se relaciona com a força de venda e não está nem um pouco preocupada com a remuneração dos acionistas antes ou depois do IBTIDA. Aliás um palavrão que só os chegados em uma corporação entendem. Não tem compromisso com a marca, nem zela pela admirabilidade da empresa. A lei maior é o vamu que vamu. Bola pra frente, minha gente.
Em ano eleitoral a casa da Mãe Joana se incorpora nos níveis da administração municipal, estadual e federal. Quando vai chegando a hora de cumprir prazo da lei para uma reeleição, há uma revoada geral. Voam urubus, abutres, andorinhas, papagaios de pirata, galos do planalto, pavões congressuais e outros alados menos cotados. Migram dos cargos que ocuparam para as ruelas, favelas, periferias e todo tipo de festa. De batizado a missa de sétimo dia. É hora das aves de arribação. Todos atrás dos votos que direta ou diretamente vão garantir mais quatro anos de ninho nos escaninhos do poder e da burocracia. Todos querem se dar bem, e para isso é preciso voar muito, beijar crianças, apertar mãos calejadas e tomar pinga em copinho de bar sujo. É a hora de partir para uma renovação, como a história da águia que, na velhice, se recolhe ao ninho no alto da montanha e arranca as penas, as unhas e perde o bico. Todos eles querem reviver o mito da Fênix.
Porém, como diz o velho e sábio : “ e quem vai tomar conta do lojinha ?”. Secretarias, ministérios, diretorias, superintendências ficam às moscas. Os que sobraram no governo ficam como baratas tontas e preenchem os cargos como podem. É a festa do  segundo escalão, que finalmente chegou lá. Por um período tampão, é claro, mas é como juntar as migalhas que caíram da mesa de um lauto banquete pago com dinheiro público. Em um ambiente desses não cabe produtividade, gerenciamento, remuneração do contribuinte com serviços,  assiduidade, interesse pela causa pública, cuidado com os gastos. É uma verdadeira festa de Babete. A administração pública se arrasta dolentemente até a eleição, posse dos eleitos, nomeação dos apaniguados e se inicia uma novo ciclo. Como o Nilo que enche todo ano por causa das lágrimas de Isis pela morte de Osiris. Aqui começa mais um carnaval com mais de um milhão de palhaços no meio do salão.

Heródoto Barbeiro

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